Arte, Cultura, Economia, Esporte, Política, Religião... Os dias atuais em suas mais diferentes matizes pedem uma reflexão crítica, franca, honesta e aberta que este espaço não só se propõe como está disposto e irá fazê-la de maneira democrática, independente e livre. Além das análises dos assuntos mais relevantes, este blog está subdividido em outras partes para que o público leitor possa ser atendido naquilo em que mais gosta: Notícias, Envio de Mensagens em SMS, Enquete, Sites Sugeridos, Vídeos, Livros Sugeridos e, logo abaixo deste texto de apresentação, estarão nossos Editoriais. Suas opiniões são muito importantes para que sempre possamos nos aprimorar cada vez mais e atendê-los melhor. Você pode deixar seus comentários nos próprios posts ou então em nosso e-mail: panoramabr@gmail.com. Bem-vindos à Panorama BR, a mais nova revista digital brasileira de análises, arte, atualidades, cultura, informações e notícias da Internet. Que a nossa presença possa ser não só prolongada, mas, principalmente, útil.
Morreu
hoje, em sua casa no Rio de Janeiro, às 5 horas da manhã, a atriz, cantora,
diretora, bailarina e coreógrafa, Marília
Pera, aos 72 anos de idade. Até o momento em que este texto foi escrito não
se sabia a causa exata da morte: a família da atriz disse que foi devido a um
desgaste ósseo, mas colunistas de televisão tais como Hildegard Angel e Fernando
Oliveira afirmam que foi um câncer no pulmão em estágio avançado.
Marília
Marzullo Pêra nasceu em 22 de janeiro de 1943, no Rio de Janeiro. Seus pais, Manuel Pêra e Dinorah Marzullo também eram atores e foi com eles que a pequena
Marília fez sua estreia nos palcos aos quatro anos de idade. Atuou como
bailarina dos 14 até os 21 anos em musicais e teatro de revista como, por
exemplo, Minha Querida Lady (1962),
estrelado por Bibi Ferreira e A Pequena Notável (1966), peça dirigida
pelo ator Ary Fontoura na qual
Marília interpretava Cármen Miranda.
Em
1964, venceu a cantora Elis Regina
na disputa pelo papel principal da peça Como
Vencer na Vida Sem Fazer Força.
Sua
estreia na televisão foi em 1965 nas novelas A Rainha do Sobrado e A Moreninha.
Em
1968, foi presa pela ditadura militar que tiraniza o Brasil enquanto atuava na
peça Roda Viva, de Chico Buarque, e foi obrigada pelos
agentes da repressão a correr nua em um corredor polonês. Tida como uma comunista
pela ditadura, foi presa novamente quando policiais invadiram sua casa assustando
a todos, inclusive a seu filho de sete anos, que dormia.
Em
1969, teve um grande sucesso com a peça Fala
Baixo, Senão Eu Grito, da dramaturga Leilah
Assumpção, que lhe valeu o prêmio de Melhor Atriz da AssociaçãoPaulista dos
Críticos Teatrais (atual Associação
Paulista dos Críticos de Arte - APCA).
Sua
estreia no cinema foi em 1968, no filme O
Homem Que Comprou o Mundo, do diretor Eduardo
Coutinho (de Cabra Marcado Para
Morrer). A consagração internacional veio em 1980, com o filme Pixote, a Lei do Mais Fraco, do diretor Hector Babenco (de O Beijo da Mulher-Aranha). Marília interpretou a prostituta Sueli,
papel que lhe valeu, nos EUA, os prêmios de Melhor Atriz do Boston Society of Film Critics, National
Society of Film Critics, além do segundo lugar como Melhor Atriz
Coadjuvante no New York Film Critics
Circle.
Em
1983, conquistou o prêmio de Melhor Atriz com o filme Bar Esperança, dirigido por Hugo
Carvana (de Vai Trabalhar, Vagabundo)
no Festival de Gramado. Por esse
mesmo trabalho, ganhou o prêmio de Melhor Atriz da APCA, em 1984.
Em
1991, conquistou o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cartagena (Colômbia) pelo filme Dias Melhores Virão, dirigido por Cacá Diegues (Bye, Bye Brasil).
Seu
último trabalho no cinema foi em 2008, com Polaróides
Urbanas, de Miguel Falabella (A Dama do Cine Shangai), que lhe deu o
Prêmio de Melhor Atriz no Festival de
Cinema Brasileiro de Miami.
Seu
último trabalho na TV foi o seriado Pé na
Cova, no papel de Darlene. Marília trabalhava na série desde 2013, até
afastar-se neste ano para cuidar da saúde.
A
dramaturgia brasileira está agora com um vazio impossível de se preencher. Que
ela descanse em paz.
Veja
aqui um vídeo de Marília Pêra
interpretando a canção 120... 150... 200
Km por Hora, de Roberto Carlos:
A
Disney é considerada a maior
companhia de entretenimento do mundo – que inclui os seus famosos estúdios
cinematográficos - tendo, nestes últimos anos, adquiridos outras grandes
companhias do ramo tais como os estúdios de animação Pixar e a editora de HQs Marvel.
Com um arsenal desses, imagina-se, a companhia fundada pelo finado animador,
cineasta e produtor Walt Disney não
tem que fazer nada além de sorrir esperando o dinheiro chegar.
Entretanto,
como é sabido, o mundo das finanças costuma pregar peças. No último dia 4 de
agosto, a Disney publicou o seu balanço trimestral. Embora tenha apresentado
lucro, puxados principalmente pelos seus últimos sucessos no cinema, este ficou
abaixo do que era esperado, o que fez com que as ações da companhia na bolsa de
valores de Wall Street sofressem uma forte queda de 9%. Foi o bastante para
soar o alarme.
Porém,
é justamente uma outra companhia adquirida pela Disney, em 2012, que pode tirar
os habitantes de Disneyworld e Disneylândia desta situação de fio da navalha na
qual se encontra atualmente: trata-se da Lucasfilms,
a companhia cinematográfica fundada pelo cineasta George Lucas, que nada mais é que o criador da saga Star Wars que, após um hiato de 10
anos, retornará no próximo dia 18 de dezembro com o próximo e aguardadíssimo
filme da franquia, Star Wars: O Despertar da Força.
O
analista financeiro da companhia de investimento estadunidense Stifel Nicolaus,
Benjamin E. Mogil, crê que o filme dê um lucro de U$ 2 bilhões em todo o mundo.
Outro analista, Paul Dergarabedian, da agência Rentrak diz que “Há um pequeno filme chamado Star Wars: O Despertar da Força, vindo
em dezembro e que deve quebrar recordes como nunca se viu antes”. Para ele, o novo filme da saga irá ajudar
nos números da Disney, especialmente na época de seu lançamento, dezembro,
época de férias e de festas de final de ano.
O
analista afirma que “Com certeza o filme
irá quebrar o recorde de maior abertura em um fim-de-semana de dezembro. Nós
nunca vimos um filme abrir com mais de U$ 100 milhões de bilheteria em
dezembro, e isso vai acontecer com Star
Wars”.
E
acrescenta, com uma dose de delírio:
“Star Wars vai dar frutos para os próximos 10, 20 e até mesmo 100
anos. Este é um plano de 100 anos para a Disney, com todas estas várias
propriedades. Em seguida, essas mesmas propriedades vão para a tela pequena,
então há a venda de produtos associados a Star
Wars”.
A
Força é mesmo uma aliada poderosa. Mestre Yoda e Mickey Mouse que o digam...
Veja aqui o trailer oficial de Star Wars: O Despertar da Força (legendado em português):
Este
é o quinto filme da franquia O Exterminador
do Futuro, iniciada em 1984, e que pretende ser o início de uma nova, com
mais dois filmes planejados para 2017 e 2018. Sendo esta a intenção, então,
pode-se dizer que as coisas começaram da maneira imaginada.
O
filme começa com uma premissa conhecida: no ano de 2029, a guerra entre humanos
e máquinas chega a seu momento decisivo. Porém, o supercomputador Skynet tenta
uma última cartada e, por meio de uma máquina do tempo, envia um exterminador
modelo T-800 para o ano de 1984 para matar Sarah Connor (a inglesa Emilia
Clarke, da série de TV Game of Thrones),
a mãe do líder da resistência humana, John Connor (o australiano Jason Clarke,
de Planeta dos Macacos: O Confronto).
Para proteger e salvar sua mãe e também a si mesmo – pois se ela morrer, ele
não nascerá – John envia o sargento Kyle Reese (o também australiano Jai
Courtney, de Divergente), que, na
verdade, é seu pai, para a mesma época. Até aqui, o filme bate com o original, parecendo
uma homenagem ao próprio, mas, é exatamente a partir daí que as coisas começam
a ficarem tortas...
Ao
invés de encontrar-se com uma Sarah Connor indefesa diante de um ciborgue
assassino, encontra uma guerreira armada até os dentes em companhia justamente de
um ciborgue (Arnold Schwarzenegger, retornando ao papel que não fazia desde O Exterminador do Futuro 3: A Rebelião das
Máquinas, de 2003) chamado de “O Guardião”, mas que Sarah chama de “Pops”
(traduzido na versão legendada como “Papi”!). E a surpresa não para aí: quase
ao mesmo tempo também aparece um exterminador modelo T-1000 (o sul-coreano Lee
Byung-hun, de G.I Joe: A Origem de Cobra)
com a missão de exterminar a todos. Um passado bem diferente ao que John Connor
havia contado e que faz com que Kyle – assim como toda a plateia – fique
completamente confuso.
E
para aumentar a confusão, Sarah conta a Kyle que um exterminador foi enviado ao
ano de 1973 para protegê-la depois da morte de seus pais e tem planos de viajar
para o ano de 1997, em uma máquina do tempo construída por “Pops”, para
destruir a companhia Cyberdine, que criou Skynet. Porém, Kyle diz a Sarah para,
ao invés disso, irem a 2017, pois, durante sua viagem no tempo teve uma visão
dele mesmo quando criança falando de um sistema chama Gênesis, que vai fazer
com que Skynet controle todo o planeta. Eles vão para 2017 e lá encontram o seu
filho John que trabalha em sua própria máquina do tempo na Cyberdine e que foi
transformado em um exterminador, chamado de T-3000, por Skynet (o esquisito
Matt Smith, da série de TV Doctor Who).
Deu
pra entender até aqui? Talvez com alguma dificuldade. Esse é o principal
problema em O Exterminador do Futuro:
Genesis, o excesso de novas informações que confundem a história a ponto de
os personagens terem que ficarem explicando o tempo todo sobre viagens no
tempo, realidade alternativa, etc. Essas novas informações não só bagunçaram
como distorceram o roteiro e ideia originais criados pelo diretor e roteirista James
Cameron (Titanic) e pela roteirista e
produtora Gale Anne Hurd (The Walking
Dead).
Essa
bagunça toda fez com que Schwarzenegger, que supostamente deveria ser o astro
do filme, se tornasse um coadjuvante. Um coadjuvante de luxo, é verdade, mas
seu papel no filme acabou por tornar-se secundário. Um talento que foi
desperdiçado foi o de J. K. Simmons (vencedor do Oscar de Melhor Ator
Coadjuvante por Whiplash – Em Busca da
Perfeição). Simmons faz o papel do detetive O’Brien, um policial alcoólatra
que testemunhou a chegada dos viajantes do futuro. Mas, seu personagem foi mal
elaborado e, apesar de toda a competência do ator, poderia muito bem ser
dispensado, pois não acrescenta nem faz falta em nada na história. Transformar
John Connor em vilão após quatro filmes no qual era tido como líder e salvador
da humanidade foi uma péssima ideia.
Embora
não esteja mal no filme, Jai Courtney não é o ator certo para o papel de Kyle
Reese, pois ele em nada lembra o personagem vivido originalmente por Michael
Biehn (de Aliens, o Resgate). E é com
Kyle Reese que vem um dos furos do roteiro: no primeiro filme, a foto que Kyle
tinha de Sarah é destruída durante um ataque de um exterminador, mas ela
milagrosamente reaparece um pouco antes de sua viagem no tempo. Poderiam ter
exterminado essa mancada...
Apesar
de toda essa “zona”, o filme tem suas qualidades. Os bons efeitos especiais, que
vão desde o uso de dublê de corpo para o primeiro exterminador de
Schwarzenegger até a tecnologia digital; a direção correta de Alan Taylor
(embora não tão boa como em seu filme anterior, Thor: O Mundo Sombrio); o humor com “Pops” tentando parecer mais
humano (o riso forçado dado por Schwarzenegger é hilário); o uso das
frases-clichês tais como “Venha comigo se quiser viver”, “I’ll be back”. Só
faltou o “Hasta la vista, baby”. Boas cenas de ação e, principalmente, a
atuação de Emilia Clarke. Além de ter uma ligeira semelhança física com Linda
Hamilton, a Sarah Connor original, ela convence como a guerrilheira
anti-máquinas de forte personalidade. Também é
digna de nota a crítica que o filme faz à dependência que as pessoas têm da
tecnologia atual com uso obsessivo de computadores, celulares, tablets, entre
outros equipamentos.
O
filme, em si, não é ruim, mas também não é melhor do que as dezenas de filmes
de aventuras que Hollywood lança todos os anos nas salas de exibições ao redor
do mundo. Pode ser visto como uma boa diversão no fim-de-semana, mas assistir
uma segunda vez vai ser chato. Se os produtores vão mesmo continuar com a
franquia, é melhor acionar a máquina do tempo de “Pops” e trazer James Cameron
de volta para dar um “upgrade” nessa mesma franquia que teve uma queda de
qualidade notória desde que o diretor de Avatar
afastou-se para dedicar-se a outros projetos.
E,
com todas essa idas e vindas pelo tempo, felizmente os roteiristas não se lembraram
de trazer de volta a ciborgue T-X, pois, se o fizessem, imaginem como ficaria a
história...
Veja o trailer oficial de O Exterminador do Futuro: Gênesis (legendado em português):
Se
há uma coisa que é mesma nos países desenvolvidos, subdesenvolvidos e os
chamados “emergentes”, é o modo como tratam as pessoas idosas. Na melhor das
hipóteses, os idosos são tratados como crianças grandes, porém, infelizmente,
na maior parte das vezes, são tidos como trastes ou algo inútil, a quem a
sociedade não sabe o que fazer visto que, do seu ponto de vista, perderam sua
capacidade de trabalho e produção (um pensamento bem comum nesta era de
neoliberalismo, austeridade financeira, ajuste fiscal e desemprego), enquanto as
famílias não querem ter o trabalho de cuidar de alguém que pode prendê-los em
casa e tomam a decisão mais conveniente para esse problema: enviá-los para um
asilo ou casa de repouso.
O
cinema da China, que mostrou ao ocidente grandes filmes tais como Lanternas Vermelhas (1991), Adeus, Minha Comcubina (1993), Nenhum a Menos (1999) e O Tigre e o Dragão (2000, que, sob a
direção de Ang Lee, transformou um filme de Kung-Fu, tido como um subgênero do
cinema, em uma obra de arte), vem com um filme que trata justamente do tema da
Melhor Idade e que é uma joia cinematográfica do Império do Centro: O Ciclo da Vida(Fei yue lao ren yuan), dirigido por Zhang Yang (Flores do Amanhã), de 2012, vencedor do
prêmio Menção Especial do Festival Internacional de Cinema de Tóquio e que, somente
neste ano, chega aos cinemas do Brasil.
O
filme conta a história de Ge (o ator Xu Huanshan), chamado pelas pessoas –
inclusive seus amigos e familiares - de Velho Ge, um motorista de ônibus aposentado.
Após a morte de sua segunda esposa, deixa a casa onde viveu com ela por 20 anos,
mas recebe uma herança em dinheiro e decide dá-la de presente ao seu neto (Chen
Kun), que casa-se nesse mesmo dia. Porém, o seu filho (Han Tongsheng) o proíbe
de presentear o neto devido a uma rusga do passado.
Sem
ter para onde ir, Velho Ge dirige-se a uma casa de repouso onde vive seu amigo
e antigo colega de profissão, Velho Zhou (Wu Tian-Ming). A vida na casa de
repouso é monótona e vazia. Velho Zhou conta a Velho Ge que ele e os outros
moradores da casa estão ensaiando um número para apresentarem em um programa de
TV. A enfermeira-chefe (Yan Bingyan) e as famílias dos idosos se opõem a isso,
pois acham que eles não têm condições para realizar uma apresentação. Porém,
apesar dessa oposição, de sua idade avançada e dos problemas de saúde, os
idosos estão dispostos a realizar esse número e viajam pela China para
participar do programa.
Para
o público brasileiro, é curioso que os idosos no filme sejam chamados de
“velho”, pois aqui, para muitas pessoas, se chamarmos nossos idosos assim,
podem sentir-se rebaixados e até humilhados. Porém, pelo que o filme demonstra,
eles tem perfeita consciência de seu estado, de modo que não se sentem magoados
ou ofendidos ao serem chamados dessa maneira.
O
roteiro de Zhang Yang, Huo Xin e Chong Zhang é baseado em uma história original
do também diretor e roteirista Liu Fendou (Chapéu
Verde) e mostra, com muita sensibilidade, a triste realidade de pessoas da
Melhor Idade que vivem em asilos e/ou casas de repouso. Mas, apesar dessa vida
melancólica, ainda há espaço para a solidariedade, o amor fraternal e o humor, mostrados
de forma muito equilibrada e poética.
Com
a direção firme de Yang somada à performance excepcional dos veteranos atores,
é impossível não se encantar, comover e rir em cenas que vão desde o choro de
Velho Ge até a dança dos idosos ao som da música Y.M.C.A., da banda Disco
Village People, cujos versos iniciais dizem: “Young man, there’s no need to
feel down / I said, young man, pick yourself off the ground” (“Jovem, não há
necessidade de sentir-se por baixo / Eu disse, jovem, levante-se do chão”, em
tradução livre). E não há como não dizer “ahh...” quando a enfermeira-chefe
desliga o rádio...
O
que parecia ser um filme que se passa entre as paredes da casa de repouso,
transforma-se em um Road Movie. Dito
assim, pode surpreender e até chocar, mesmo porque, quando fala-se neste tipo
de filme, logo vem à mente filmes da franquia Velozes & Furiosos, com seus carros modernos e potentes e
jovens dirigindo e pisando fundo no acelerador.
Porém,
a história do cinema demonstra que Melhor Idade e pé na estrada são algo que
combinam muito bem e podem ser visto em filmes como Harry, o Amigo de Tonto (1974), estrelado pelo maravilhoso Art
Carney, vencedor do Oscar de Melhor Ator por este trabalho; o filme francês Mamute (2010), com Gérard Depardieu; e o
pouco visto, mas excelente, Nebraska
(2013), que deu a Bruce Dern o prêmio de Melhor Ator no Festival de Cannes. Portanto,
não venham com essa que velhinhos não podem viajar na rodovia!
Ao
invés de um carrão, nossos heróis viajam em um velho ônibus enferrujado. E,
durante a viagem, encontram desde valentões – que não hesitam em encarar – até uma
tribo mongol e também uma manada de cavalos correndo livremente pelas belas
paisagens do interior da China. Aqui, destaca-se a excepcional fotografia de
Tao Yang. E não poderíamos deixar de falar da delicada e ótima trilha sonora de
Bao San, que consegue mostrar todas as emoções do filme, do choro ao riso.
Obviamente
que não contarei o final para não estragar a surpresa (entretanto, adianto que
é de levar lágrimas aos olhos), mas, tal como no documentário norueguês As Otimistas,
O Ciclo da Vida prova que nunca é
tarde para perseguir os seus sonhos, independente de sua idade.
É
de se lamentar que um filme tão excelente, encantador, comovente, lindo, uma
verdadeira pérola, tenha demorado tanto tempo para ser exibido aqui, mas a
espera valeu a pena!
Veja o trailer oficial de O Ciclo da Vida (legendado em português);
Os
diretores Eric Toledano e Olivier Nakache e o ator Omar Sy, retomam a parceria
que os fez serem bem sucedidos no filme Intocáveis,
de 2011, que foi o filme de maior bilheteria na França nesse ano e deu a Omar
Sy o prêmio César (versão francesa do Oscar) de melhor ator, sendo o primeiro
negro a conquistar esse prêmio. O filme tinha como premissa básica o
relacionamento de um pobre imigrante africano negro e atlético e um milionário
francês branco e tetraplégico no estilo “os opostos se atraem”. Samba – que, na pronúncia francesa, fica
“Sambá” - também usa essa lei da Física em sua história.
Baseado
no livro “Samba pour la France”, de Delphine Coulin, o filme conta a história
do imigrante de Senegal (no livro, ele é de Mali) Samba Cissé (Omar Sy), que
vive há 10 anos na França na casa de seu tio e ganha a vida em um restaurante,
lavando pratos, mas, devido a problemas com a imigração, é preso. Uma ONG
especializada em ajudar imigrantes em situação irregular assume seu caso e
envia duas mulheres para cuidar de Samba: Manu (interpretada pela cantora de
Rock Izïa Higelin) e Alice (Charlotte Gainsbourg, de Ninfomaníaca), uma executiva que sofreu um “burnout” devido ao
ritmo excessivo de trabalho que a levou a um colapso.
O
“burnout” é também chamado de “síndrome do esgotamento profissional”. Segundo o
Dr. Drauzio Varella, a principal característica dessa síndrome é o
estado de tensão emocional e estresse crônicos provocado por
condições de trabalho físicas, emocionais e psicológicas desgastantes. A
síndrome manifesta-se especialmente em pessoas cuja profissão exige
envolvimento interpessoal direto e intenso.
Licenciada
do serviço, Alice trabalha na ONG como parte de seu tratamento e recuperação.
Manu aconselha Alice a ter um relacionamento distante de Samba, mas, pouco a
pouco eles, cujas vidas têm poucas perspectivas, aproximam-se e relacionam-se.
A
diferença entre Intocáveis e Samba começa na forma como o tema de
cada filme é tratado: no primeiro, o tema da deficiência física, embora
considerado “pesado”, é tratado de forma descontraída, sem grande drama e sem
ser piegas, com humor, que faz com que a atenção do grande público seja atraída
e se sinta próximo dos personagens.
Já
em Samba, o tema dos imigrantes
irregulares é tratado de forma mais séria, embora sem abdicar do humor, que é
visto em várias cenas e também o aproxima do público. A vida desses imigrantes,
com suas constantes preocupações em arrumar emprego, enviar dinheiro para suas
famílias, regularizarem sua situação na França para não serem deportados e
terem que voltar a uma situação de extrema miséria e/ou de guerra civil, é vista
igualmente sem apelar para o dramalhão e a pieguice, de forma sóbria, mas sem
ser tediosa.
O
ponto forte da dupla Toledano-Nakache é a direção de atores. Omar Sy mostra que
não foi à toa que conquistou o César. Sua atuação é, ao mesmo tempo, discreta,
emotiva e moderna, o que faz com que seja um dos melhores atores franceses da
atualidade, a ponto de Hollywood abrir-lhe as portas, como já pôde ser visto em
produções com em X-Men: Dias de Um Futuro
Esquecido e Jurassic World: O Mundo
dos Dinossauros.
Charlotte
Gainsbourg está no mesmo nível de Sy. Também vencedora do César e do prêmio de
melhor atriz no Festival de Cannes por Anticristo
(2009), sua atuação é esplendorosa. É simplesmente impressionante como ela
consegue fazer com que Alice, durante suas crises emocionais, passe de um
estado tímido e inseguro para um raivoso e agressivo em questão de segundos.
Hoje em dia, poucas atrizes conseguem atuar assim com tamanha competência.
São
também dignas de nota as atuações de Izïa Higelin e Tahar Rahim. Vencedora do
César de Atriz Mais Promissora, em 2012, Izïa é mesmo uma grata revelação (Samba é seu segundo filme). Já o
simpático Rahim, que faz o “brasileiro” Wilson, tem algumas das melhores
tiradas de humor do filme e, algumas vezes, chega a roubar as cenas dos
protagonistas principais.
Pegando
um “gancho” do parágrafo anterior, não poderia deixar de falar das menções
honrosas ao Brasil: além do já citado “brasileiro” Wilson, também há canções de
Gilberto Gil e Jorge Benjor e Rahim e Gainsbourg surpreendem falando português
de forma correta – embora com sotaque.
A
escolha do elenco não foi por acaso, pois vários atores e atrizes do filme têm
ligações com imigrantes. O pai de Omar Sy é do Senegal e a mãe da Mauritânia.
Charlotte Gainsbourg é de ascendência anglo-francesa: seu pai é o prestigioso
cantor francês Serge Gainsbourg e a mãe é a atriz inglesa Jane Birkin. Os pais
de Tahar Rahim são da Argélia. Já o ator Isaka Sawadogo, que faz o papel de
Jonas, e a atriz Liya Kebede, que faz o papel de Gracieuse, são mesmo imigrantes
vindos, respectivamente, de Burkina Faso (antiga República do Alto Volta) e
Etiópia. Um filme sobre imigrantes feitos pelos próprios e por seus
descendentes.
O
filme mostra que países europeus como a França ainda tem uma relação mal
resolvida com suas antigas colônias na África, Ásia e América. Isso se reflete
no tratamento dado aos imigrantes: vistos com desconfiança (a velha história
que “um estrangeiro é sempre suspeito”), tendo que submeterem-se a sub-empregos
– muitos deles perigosos e insalubres – e concentrando-se em guetos ou nos
campos de detenção. A xenofobia (ódio aos estrangeiros) é um problema que tem
ocorrido na Europa nestes últimos anos com a ascensão de partidos conservadores
e reacionários como, por exemplo, a Frente Nacional, do infame político francês
de extrema-direita Jean-Marie Le Pen e de sua filha e herdeira, a igualmente
infame Marine.
Samba
pode não ter o mesmo impacto e sucesso que Intocáveis,
mas é daqueles filmes que melhoram com o passar dos anos. Em uma época na qual
a Europa – e, em particular, a França – sofre com a crise financeira que teima
em não terminar, com medidas de austeridade que aumentam o desemprego e cortam
benefícios sociais e trabalhistas, políticas neoliberais que exigem que as
pessoas trabalhem o máximo ganhando o mínimo e acabam por gerar muitos casos de
“burnouts”, com a União Europeia querendo restringir a sua política de
imigração tanto para imigrantes legais como ilegais e o aumento da xenofobia, o
filme é, simultaneamente, um registro de seu tempo e também um alerta.
Veja o trailer oficial de Samba (legendado em português):
De
algum tempo para cá, doenças emocionais em nossa sociedade vem aumentando cada
vez mais, principalmente devido à vida estressante dos dias de hoje. Até alguns
anos trás, esses tipos de doenças eram vistas como fraquezas, defeitos de
caráter e até “frescuras”. Porém, após o suicídio do ator Robin Williams
(vencedor do Oscar de Melhor Ator Coadjuvante por Gênio Indomável, em 1997) devido à depressão, em 2014, doenças
emocionais passaram a serem vistas não só como enfermidades, mas também como algo
que pode matar.
Uma das doenças emocionais mais conhecidas é o transtorno bipolar,
também chamado de maníaco-depressivo. Segundo o Dr. Drauzio Varella, o
transtorno bipolar é um distúrbio psiquiátrico complexo. Sua característica
mais marcante é a alternância, às vezes repentina, de episódios de depressão
com os de euforia. As crises podem variar de intensidade (leve, moderada e
grave), frequência e duração. As flutuações de humor têm reflexos negativos
sobre o comportamento e atitudes dos pacientes, e a reação que provocam é
sempre desproporcional aos fatos que serviram de gatilho ou, até mesmo,
independem deles. Ainda não há cura para essa doença, mas, assim como a
diabetes, pode ser controlada. Com medicação e tratamento adequado
(psicoterapia, alimentação, exercícios, etc.), a pessoa que sofre desse
transtorno pode levar uma vida praticamente normal.
Hollywood tem tradição em filmes que tratam sobre doenças emocionais
e/ou mentais. Podemos citar como exemplo Um
Estranho no Ninho (1975, vencedor de cinco Oscars, inclusive melhor filme)
e Rain Man (1988, vencedor de quatro
Oscars, também incluindo o de melhor filme). Sentimentos Que Curam segue essa tradição hollywoodiana.
O filme conta a história da família Stuart, que se passa entre os
finais das décadas de 1960 e 1970, na cidade de Boston (EUA). Cameron, chamado
por todos de “Cam”, (Mark Ruffalo, da franquia Os Vingadores) foi diagnosticado com transtorno bipolar, mas isso
não o impediu de casar-se com Maggie (Zoe Saldana, da franquia Star Trek) e de terem duas filhas:
Amelia (a estreante Imogene Wolodarsky) e a caçula Faith (a também estreante
Ashley Aufderheide). Porém, à medida que o tempo passa, a doença de Cam piora,
sua família o abandona e ele acaba por ter um colapso que o leva para uma
internação em uma instituição psiquiátrica.
Maggie e as crianças o visitam frequentemente, mas a situação
financeira da família não está boa. Após receber alta, Cam tenta reconciliar-se
com sua esposa e filhas. Um dia, Maggie propõe a Cam tomar conta das crianças
enquanto ela vai à Nova York fazer um Mestrado, arranjar um trabalho melhor e
resolver os problemas financeiros da família. Cam concorda, pois vê essa
proposta como algo que não só pode ajudá-lo em sua recuperação como também uma
chance para a reconciliação familiar que tanto deseja.
Sentimentos Que Curam marca
a estreia na direção da roteirista Maya Forbes (Monstros vs Alienígenas), que também fez o roteiro do filme baseado
em sua experiência pessoal (seu pai também sofre de transtorno bipolar). Forbes
mostra uma direção segura - embora por vezes acadêmica – tanto nas cenas
dramáticas quanto humorísticas. Forbes decidiu dar um tratamento mais “light”
para falar de um tema tão “pesado”. Ao invés de um dramalhão no estilo
“vejam-como-eu-sofri-com-a-minha-doença”, ela optou pelo humor seguindo a linha
do filme francês Intocáveis (2011,
que conta a história de um tetraplégico). Acabou por ser uma boa escolha, pois
atenua um tema tenso e faz o público aproximar-se mais do filme.
A reprodução de época, tanto em vestuários como em costumes, é
precisa. A década de 1970 foi uma época de “pisada no freio” após a loucura da
década de 1960 com o seu sex, drugs &
rock and roll, mas continuou o caminho de liberalização de costumes como
mostra o próprio casamento de Cam e Maggie, inter-racial e com filhas mestiças,
algo ainda raro naquele tempo. O fato de um homem ser “dono-de-casa” e cuidar
para que as crianças vão à escola, comam bem e façam amigos era também algo
difícil de ser visto e tido como admirável – principalmente pelas mulheres - como
bem mostra uma cena do filme.
O ponto forte do filme é o seu elenco. Mark Ruffalo sabe o que é
padecer de uma doença, pois tinha um tumor cerebral, que foi retirado em 2002.
Embora o tumor tenha revelado-se benigno, ficou algum tempo com o lado esquerdo
do rosto paralisado. O episódio o fez refletir muito sobre a vida e a morte e
essa experiência particular faz com que tenha uma atuação espetacular. O
espectador ri muito com as “pirações” de Cam, se comove com seu amor por Maggie
e as crianças, mas também fica bastante impressionado ao vê-lo “surtar”. E isso
sem apelar para clichês ou demagogia, apenas usando seu grande talento.
Gostaria de fazer um parêntese para dizer que Mark Ruffalo é um cara
legal. Além de ator vencedor do prêmio Emmy (o Oscar da TV) e duas vezes
indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante (em 2011 e 2015), ele é um
ativista dedicado às causas nobres: posicionou-se contra a administração de
George W. Bush, apoia a causa palestina, defende movimentos ecológicos e, nas
eleições presidenciais brasileiras de 2014, apoiou a candidata Marina Silva. Mas,
quando esta voltou atrás na sua posição inicial de defesa do casamento gay e
dos direitos reprodutivos da mulher pressionada por lideranças evangélicas como
o “pastor” Silas Malafaia, retirou o apoio. E o fez de uma forma elegante.
Zoe Saldana corria o risco de ser a chata do filme, que só ficaria
implicando com Cam. Porém, surpreendendo a todos, principalmente aqueles que a
vem somente como uma mulher de rostinho bonito e corpo “sarado”, ela sai pela
tangente e tem uma atuação forte e sensível como a mãe que tem que segurar
todas as barras em prol de sua família. Mas, assim como Ruffalo, ela não usa de
clichês ou demagogia e prova que é uma atriz que ainda tem muitas coisas boas
para mostrar.
Entretanto, os pais não seriam os pais sem suas filhas. Imogene
Wolodarsky e Ashley Aufderheide dão um show à parte. Nem parece que elas estão
fazendo um filme pela primeira vez tamanha a naturalidade com que atuam.
Imogene é filha de Maya Forbes e, segundo a mãe, o parentesco entre elas
facilitou o trabalho: “Eu podia fazê-la chorar sem me preocupar em causar danos
a ela”. E, tampouco teve dificuldades com Ashley, que teve a melhor tirada do
filme ao dizer que o pai é “infinitamente urso polar” (traduzido de “infinity
polar bear”, nome do filme em inglês) ao invés de “infinitamente bipolar”.
O ponto fraco do filme é a presença dos pais de Cam, vividos por Keir
Dullea (2001, Uma Odisséia no Espaço)
e Beth Dixon (da mini-série de televisão A
Tempestade do Século), que não tem muito o que fazer na trama e nem
precisavam aparecer.
Uma coisa que não pode deixar de ser dita: o título brasileiro do
filme é simplesmente horroroso. É um hábito no Brasil dar aos filmes
estrangeiros títulos que não tem nada a ver. Como já vimos, o título original é
totalmente diferente e, como também já vimos, o transtorno bipolar é incurável,
de modo que, neste caso, não há sentimentos que possam curar esse mal. Já em
Portugal, o título é Amor Polar!
Também deixa muito a desejar, mas, pelo menos está mais próximo do original.
Quem sabe, um dia, tanto brasileiros quanto portugueses acertem...
Sentimentos Que Curam foi
lançado no Festival de Sundance, em 2014 (o lançamento em circuito comercial é
neste ano), recebeu boas críticas e foi indicado ao Prêmio Especial do Júri. Assim
como o filme Samba,
este é daqueles filmes que, se agora já são bons, com o passar do tempo vão
melhorar. E quem for às salas de exibição não vai se arrepender de assistir,
pois vai se divertir e perceber que um doente emocional não é um fraco, um
“fresco” ou alguém cheio de defeitos de caráter, é apenas um ser humano como
todos nós. E quem garante que os ditos “normais” não são mais doentes que ele?
Veja o trailer oficial de Sentimentos Que Curam (legendado em português):
Em
1972, o ex-BeatleJohn
Lennonjuntamente com
sua esposa, a artista plásticaYoko
Ono, lançaram uma canção intitulada “Woman is the Nigger of the World”
(“Mulher é o Negro do Mundo”) cujos versos iniciais dizem:
“Woman is the nigger of the world / Yes, she is…think about it / Woman
is the nigger of the world / Think about it…do something about it”;
“We make her paint her face and dance / If she won’t be a slave, we say
that she don’t love us / If she’s real, we say she’s trying to be a man / While
putting her down, we pretend that she’s above us”;
(“Mulher é o negro do mundo / Sim, ela é…
Pense sobre isso / Mulher é o negro do mundo / Pense sobre isso… Faça alguma
coisa sobre isso”;
“Nós a fazemos pintar a sua face e dançar /
Se ela não for uma escrava, nós dizemos que ela não nos ama / Se ela é
verdadeira, nós dizemos que ela está tentando ser um homem / Enquanto nós a
colocamos para baixo, fingimos que ela está em cima de nós”).
Esta
canção foi considerada forte à época de seu lançamento. Mesmo no tempo
presente, ela é considerada assim, mas, nestes dias em que estupros coletivos e
outros tipos de violências – físicas ou morais – contra as mulheres são,
infelizmente, cada vez mais comuns, ela soa mais atual do que nunca.
Dois
filmes de diretores estreantes lançados recentemente, refletem e reforçam
simultaneamente os versos da canção. O primeiro é o filme turcoMustang(idem, 2015), da diretoraDeniz Gamze Ergüven.
O filme conta a história de cinco adolescentes órfãs que vivem em uma pequena
aldeia no interior da Turquia cuja sociedade é retrógrada e de moral
ultra-conservadora. No último dia de aula na escola, elas juntam-se a um grupo
de rapazes para brincarem, inocentemente, na praia. Uma vizinha testemunha a
brincadeira e, escandalizada, afirma que elas se comportaram como prostitutas.
O tio das meninas obriga-as a irem ao hospital para fazer um teste de
virgindade e fecha-as em casa durante todo o verão. As atividades domésticas
substituem a ida à escola e começam-se a arranjar casamentos. As meninas,
animadas pelo desejo de liberdade, procuram por todos os meios contornar as
regras que lhes são impostas. O nome do filme, além de referir-se a uma raça de
cavalos selvagens, é uma metáfora da adolescência: ardente, poderosa e sensual.
A
jovem – e bonita – cineasta diz ter sentido a necessidade de explicar“o que é ser mulher nos dias de
hoje na Turquia, uma questão que está a ser muito debatida e que é muito
polemica neste momento na sociedade turca, onde as mulheres e as adolescentes
pouco podem se exprimir”. E acrescenta:
“Eu
quis fazer destas meninas umas heroínas, figuras de coragem, de inteligência,
de perseverança e de uma série de valores que raramente as mulheres têm no
cinema. Elas fazem-me lembrar um pouco James Dean, há algo de contestatário,
mas bonito, com toda a beleza, a frescura, a juventude. E mesmo que isso possa
ser considerado um ponto de vista crítico, é uma crítica importante e que gera
algo positivo”.
O
filme foi exibido no último Festival de Cannes e ganhou o prêmio “Label Europa
Cinemas” da seção “Quinzena dos Diretores”.
A
indústria cinematográfica na Etiópia é paupérrima, tendo lançado somente quatro
filmes até hoje. Seu filme mais recente chama-seDifret(idem, 2014), dirigido por Zeresenay
Mehari, que também é o autor do roteiro baseado em uma história real.
O filme conta a história ocorrida há 20 anos atrás da jovem Hirut. Com apenas
14 anos, Hirut é uma excelente estudante cuja morada fica a três horas da
capital etíope, Addis-Abeba. Um dia, quando retornava da escola, Hirut é
raptada por homens a cavalo para casar-se com um deles. O rapto pré-nupcial é
um costume muito antigo que sobrevive na Etiópia em pleno século XXI. Porém,
Hirut não quer tornar-se uma esposa tão nova, recusa-se a casar e é violentada.
Ela escapa do cativeiro e mata seu raptor. Ao ser acusada de assassinato, uma
advogada de Addis-Abeba decide ajudá-la. É o confronto entre dois mundos: o
moderno e o arcaico.
O
filme tem produção executiva deAngelina
Joliee recebeu, em
2014, o prêmio do público dos festivais de Berlim, Sundance e do Cinema Mundial
de Amsterdam. Na língua amárica, a língua oficial da Etiópia, “difret“
significa “coragem”.
Difretfoi lançado em circuito comercial na
Alemanha em 12 de março último eMustangfoi
lançado na França em 15 de junho (e, se não houver censura por parte do governo
local, estréia na Turquia em outubro, em dia ainda a ser definido). Ainda não
há previsão para lançamento de ambos os filmes em circuito comercial no Brasil.
Aproveito
a oportunidade para dedicar este modesto texto a todas as mulheres do mundo.
Veja
o trailer do filmeMustang(legendas em francês):
Veja o trailer do filmeDifret(legendas em espanhol):
Ele é considerado como uma espécie de “último dos moicanos” do cinema de denúncias. Conhecido por filmes como Z (1968, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro), Estado de Sítio (1972), Desaparecido, Um Grande Mistério (1982, vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes) e o polêmico Amen (2002), todos de alto teor político e social, o cineasta grego naturalizado francês Konstantinos Gavras, mais conhecido como Costa-Gavras, nunca teve papas na língua e sempre botou a boca no trombone sobre aquilo que julga serem as injustiças do mundo, seja a sangrenta ditadura militar do general chileno Augusto Pinochet, a corrupção no interior da Igreja Católica ou o desemprego internacional.
Tido como um ícone do cinema político e vivendo há muitos anos em Paris, Costa-Gavras, entretanto, nunca deixou de acompanhar a situação interna de sua Grécia natal, especialmente agora na terrível crise social e econômico-financeira pela qual o país passa devido ao duríssimo programa de austeridade imposto pela chamada “Troika” (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e FMI) e denuncia repetidamente o que define como “a humilhação do povo grego”. Um drama que bem poderia ter saído de um roteiro de um de seus filmes.
Em recente entrevista à repórter Isabelle Kumar durante o programa Global Conversation, do canal de notícias europeu Euronews, em resposta à pergunta que, em seus filmes, “há muitas vezes um herói solitário, que enfrenta o poder. Alexis Tsipras (atual Primeiro-Ministro grego, do partido de esquerda Syriza) podia ser o seu novo herói?”. Costa-Gavrasrespondeu:
“Na política sim. Para um filme, não sei, mais tarde veremos. Mas sim, acho que ele é uma figura excepcional atendendo aos padrões gregos. É um homem que emergiu da classe média e que tem subido muito rapidamente. Os gregos confiam nele, tem uma grande confiança por detrás dele. As pessoas interpretam-no mal e à sua forma de pensar”.
Mais adiante, ao ser perguntado que papéis daria, em um dos seus filmes, a Tsipras, Yanis Varoufakis (ex-ministro da economia do governo grego que, recentemente, renunciou ao cargo), Angela Merkel (Primeira-Ministra da Alemanha), Mario Draghi (Primeiro-Ministro da Itália) e o presidente do Banco Central Europeu, com muito bom humor, Costa-Gavras respondeu que daria o papel que eles têm na política, mas com uma vertente cômica.
Veja aqui a entrevista completa (traduzida em português europeu):
A
nave estelar Enterprise perdeu no ano
de 2015 três de seus tripulantes: o produtor Harve Bennett (que produziu vários
filmes da franquia de Jornada nas
Estrelas); a atriz Grace Lee Whitney (que interpretava Janice Rand, a
ordenança do Capitão Kirk); e, principalmente, um de seus mais ilustres
membros: Leonard Nimoy, mais conhecido como o Sr. Spock. Nas próximas linhas
conheceremos um pouco mais sobre o intérprete do extraterrestre mais lógico do
universo.
Leonard
Simon Nimoy nasceu em 26 de março de 1931 na cidade de Boston, nos EUA, filho
de imigrantes judeus ucranianos, durante o duro período da Depressão Econômica
que assolava o mundo. Começou a atuar com oito anos de idade em peças infantis
no teatro de seu bairro. Seus pais, pessoas muito práticas, não aprovavam essa
escolha de seu filho (um futuro paralelo com Spock), mas seu avô o incentivou a
continuar. O jovem Leonard arrumou um emprego de vendedor de aspiradores de pó,
que lhe permitiu economizar 600 dólares para pagar o curso de teatro no Boston
College. Lá, tornou-se um devoto seguidor do método Stanislavsky de
interpretação que, segundo ele, permitiu-lhe explorar os “territórios
psicológico, emocional e físico, que não poderia ser feito em nenhum outro
lugar”. Tomou o ator Marlon Brando como modelo e, como ele, começou a usar
jeans e camisetas. Arrumou um outro emprego, desta vez em uma sorveteria, para
ajudar a pagar os estudos.
Fez
sua estreia no cinema em 1951, em filmes menores. Em 1952, teve sua primeira chance
como protagonista no filme Kid Monk
Baroni, no qual interpreta um jovem marginal de rua que torna-se um campeão
de boxe. Esse filme deu-lhe a fama de ator dramático e intenso, mas, ainda
assim, só conseguia papéis em filmes B como, por exemplo, Zombies of The Stratosphere, no qual interpretava um marciano que
queria conquistar a Terra. O destino já começava a agir...
Em
1953, foi servir o exército, onde ficou por um ano e meio. Nesse período,
conheceu o também ator Fess Parker (que, futuramente, seria o astro da série Daniel Boone) e organizava, dirigia e
estrelava espetáculos para entreter os soldados. Dentre esses espetáculos,
destacou-se a peça, Um Bonde Chamado
Desejo, de Tennessee Williams. Deixou o serviço militar com a patente de
sargento.
Ao
retornar ao cinema, fez mais alguns trabalhos em filmes B, até que apareceram
oportunidades na crescente indústria da televisão. Nimoy agarrou essas
oportunidades com unhas e dentes – afinal, tinha mulher e filhos para sustentar
– e começou a aparecer em vários seriados (alguns bem conhecidos dos
brasileiros) tais como Dragnet, Bonanza,
Gunsmoke, Além da Imaginação, Rawhide (onde conheceu e trabalhou com Clint
Eastwood), Os Intocáveis, Perry Mason,Combate, Agente 86 e Daniel Boone. De todos os seriados em
que atuou, três se mostraram marcantes em sua carreira: O Homem de Virgínia, no qual trabalhou com DeForest Kelley, o
futuro Dr. McCoy (curiosamente interpretou também o papel de um médico); O Agente da U.N.C.L.E., onde trabalhou
com William Shatner, o futuro Capitão Kirk; e The Liutenant, um seriado de pouca duração criado por um produtor chamado
Gene Roddenberry. A atuação de Nimoy chamou a atenção de Roddenberry, que o
convidou para participar do episódio-piloto de um seriado de ficção-científica
que tinha acabado de criar para a NBC (uma das chamadas “três grandes”
emissoras dos EUA) e que se chamava Jornada
nas Estrelas. Leonard aceitou o convite e, ao fazer isso, sua vida mudou
para sempre.
Roddenberry
disse a Nimoy que o personagem que faria ainda não estava completamente
elaborado, mas Spock que não deveria deixar dúvida a sua condição de
extraterrestre. Seria, portanto, distinguido dos demais por uma cor diferente
(provavelmente o vermelho), um corte de cabelo diferente e orelhas pontudas. Ele
também seria diferente em termos de temperamento. Spock era meio-humano,
meio-alienígena, e havia sido criado num mundo onde a demonstração de emoção
era de mau gosto e firmemente reprimida. Esse lado racional e “reprimido”
ocultaria, é claro, seu lado humano e emocional.
A
cor vermelha foi deixada de lado (ao invés disso, foi usado um leve tom
esverdeado que apareceria melhor nas telas de televisão pois, na época, nem
todas as TVs eram coloridas), mas o corte de cabelo e as orelhas pontudas foram
mantidas. O episódio-piloto chamava-se The Cage (A Jaula) e a nave Enterprise era comandada pelo Capitão Christopher
Pike (interpretado pelo galã Jeffrey Hunter, de Rei dos Reis). Spock já era oficial de ciências, mas não o
primeiro-oficial, cargo que coube à Número Um (interpretada por Majel Barrett,
futura esposa de Roddenbery). Neste episódio, a personalidade de Spock ainda
está muito “humana” – com direito inclusive a sorrisos! – bem diferente do que
se veria mais tarde.
O
episódio foi rejeitado pela direção da NBC por ser considerado “muito
cerebral”, mas, em algo raro na televisão, Roddenberry teve uma segunda chance.
Todo o elenco foi trocado, com exceção de Nimoy e Barrett (que faria o papel da
enfermeira Christine Chapell) e, para o segundo episódio piloto, chamado Where No Man Has Gone Before (Onde Nenhum Homem Jamais Esteve), foram
contratados James Doohan (no papel do Sr. Scott), George Takei (Sr. Sulu) e, especialmente,
William Shatner. Mais tarde, viriam DeForest Kelley, Nichelle Nichols (Tenente Uhura)
e Walter Koenig (Sr. Chekov).
O
seriado fez sua estreia em 1966, com críticas variadas, audiência baixa, mas
uma legião fiel de fãs, que incluía os ilustres cientistas e escritores Isaac
Asimov e Arthur C. Clarke. Durante o seriado, Nimoy pôde desenvolver a
personalidade vulcana lógica, racional e sem emoções de Spock – sempre em
conflito com seu lado humano - tal como Roddenberry havia imaginado e, ainda, a
aperfeiçoou com as famosas frases “Isso é lógico/ ilógico”, “Fascinante”, “Vida
longa e próspera”, com a musical “lira vulcana”, o “toque vulcano” (aplicado no
pescoço dos inimigos para nocauteá-los) e, especialmente, com a famosa “saudação
vulcana”. Segundo sua segunda autobiografia, Eu Sou Spock (falaremos da primeira mais adiante), Nimoy conta que
criou a saudação “pegando emprestado” de um ritual judaico ortodoxo executado
nas sinagogas:
“Durante o culto da
Páscoa, os Konahim (que são os sacerdotes) costumam abençoar os fiéis. Eles erguem as mãos
mostrando as palmas para a congregação, com os polegares esticados e os dedos
médio e anular separados de maneira que cada mão forme dois ‘V’. Esse gesto
simboliza a letra hebraica shin, a
primeira da palavra Shaddai, que
significa ‘Senhor’; na cabala judaica,
shin também representa o Espírito
Santo.
O ritual me
impressionou muito quando eu era menino (...). O momento em que os Konahim abençoavam a congregação mexia comigo
profundamente, por causa do seu poder de magia e teatralidade”.[1]
Com
todas essas “vulcanices”, Spock não só tornava-se popular entre os fãs, como
também valeu a Nimoy três indicações seguidas ao prêmio Emmy (o “Oscar” da TV
estadunidense) de melhor ator coadjuvante. Nessa época comentava-se muito sobre
uma rivalidade e ciúmes de Shatner em relação Nimoy. Nimoy sempre negou isso,
embora admitisse a rivalidade, mas, como o próprio definia, “uma rivalidade
saudável de irmãos que competem entre si”. Nimoy sempre recordou com carinho e
bom humor a amizade com o elenco de Jornada,
em especial com Shatner e DeForest Kelley:
“De Kelley é um típico
cavalheiro do Sul [dos EUA], uma alma tranquila e gentil (...). É um homem doce e modesto e está
casado com sua adorável esposa, Carolyn, há mais de 40 anos.[2]
Acho que é hora de o
mundo inteiro saber o que de verdade acontecia no estúdio de Star
Trek: Bill Shatner é um dos mais infames
piadistas do mundo, adora um trocadilho, e logo deu início a sua ‘missão de
cinco anos’ de tentar me enlouquecer”.[3]
Para
quem ainda tem dúvidas sobre a amizade entre o capitão da Enterprise e seu
primeiro-oficial alienígena, eis uma história ainda não muito conhecida: apesar
do sucesso pessoal, Nimoy estava nessa época sofrendo de problemas com álcool e
drogas e Shatner ajudou-o a recuperar-se. Anos depois, Nimoy retribuiu o favor
ao ajudar a esposa do amigo a recuperar-se dos mesmos problemas.[4]
Apesar
da devoção dos fãs, Jornada nas Estrelas
foi cancelada em 1969. Entretanto, Nimoy não ficou desempregado muito tempo.
Nesse mesmo ano foi escalado para trabalhar em uma série de grande sucesso, Missão Impossível, na qual fazia o papel
de Paris, um mestre dos disfarces. As lembranças de Nimoy dessa época, porém,
são ambíguas: dizia que, no início, trabalhar em Missão Impossível “era excitante, mas acabou ficando chato” por
achar o papel muito repetitivo.
Em
1971, Nimoy decidiu sair do seriado – o que muitos consideraram uma loucura
devido à grande audiência do programa – mas Leonard procurava outros desafios.
Foi nesse período que iniciou duas paixões: a poesia e, principalmente, a
fotografia.
Continuou
trabalhando em filmes para o cinema e a TV (que incluía o seriado Galeria do Terror, no qual teve sua
primeira experiência como diretor) ao mesmo tempo em que começou uma intensa
atividade teatral, com atuações elogiadas em várias peças dentre as quais
destacam-se Um Violinista no Telhado,
Calígula (do escritor e filósofo existencialista francês Albert Camus, na
qual interpreta o personagem-título, um louco que quer ser lógico...), a
polêmica The Man in the Glass Booth
(que trata do tema do holocauto judeu), Um
Estranho no Ninho e Equus.
Nesse
mesmo período, aconteceu algo com o qual Nimoy não esperava: as estações de TV
locais começaram a reprisar Jornada nas
Estrelas, que teve índices de audiência nunca sonhados na década de 1960.
Devido a esse renascimento do seriado, em 1973, Nimoy foi chamado pela
Filmation, estúdio de desenhos animados feitos para a televisão, para dublar
Spock em Jornada nas Estrelas – A Série
Animada. Jornada nas Estrelas
acabou tornado-se um fenômeno cultural e sociológico.
Assim
como muitas pessoas, Nimoy não sabia exatamente o porquê desse fenômeno, mas
especulava:
“Primeiro, Star
Trek oferecia esperança para uma geração
que crescera assustada com o fantasma da guerra nuclear. (...) Ao mesmo tempo,
nossa paranoia em relação à União Soviética estava em seu clímax (...).
E em meio a toda essa
paranoia e terror havia uma mensagem clara de esperança na forma de Star Trek,
uma mensagem que parecia dizer: ‘Sim, vamos sobreviver à era atômica. Vamos
fazer contato com vidas inteligentes em outros planetas e eles serão nossos
amigos, não nossos inimigos. Juntos, vamos trabalhar pelo bem comum’.
(...) Os anos 70 foram
tempos de grande rebeldia cultural, como também foram o período da Guerra do
Vietnã e de Watergate, do abuso de drogas e da liberdade sexual. A sociedade
estava vivendo uma mudança muito rápida (...). E, em meio a esses tempos de incerteza,
havia a tripulação de Star Trek, totalmente confiável e incorruptível; pessoas que diziam a verdade e,
acima de tudo, comportavam-se eticamente, com dignidade, compaixão e
inteligência”.[5]
Em
1975, escreveu e publicou sua primeira autobiografia, Eu Não Sou Spock. O livro, em meio às suas lembranças, traz
divertidos diálogos entre “criador” e “criatura” e Nimoy ainda faz um jogo de
palavras:
“Eu não sou Spock.
Então por que viro a
cabeça na rua quando alguém me chama por esse nome? Por que fico perturbado
quando alguém pergunta: ‘O que aconteceu com suas orelhas?’
Eu não sou Spock.
Então por que sinto uma
sensação maravilhosa quando ouço ou leio um elogio em relação ao vulcano?
SPOCK PARA PRESIDENTE é
a inscrição de um adesivo colado no carro que vejo à minha frente. Fico inchado
de orgulho e sorrio. Eu não sou Spock.
Mas se eu não sou, quem
é? E se não sou Spock, então quem sou eu?”.[6]
Novamente,
aconteceu algo com que Nimoy não contava: várias pessoas que leram
superficialmente o livro – ou simplesmente não leram – começaram a comentar que
o ator rejeitava o personagem, o que, absolutamente, não era verdade. Nimoy
chegou a dizer que escrever o livro foi uma “besteira”, que só foi corrigida 20
anos depois quando publicou Eu Sou Spock.
Em
1977, Nimoy recebeu um convite dos estúdios Paramount (detentora dos direitos
de Jornada nas Estrelas) para
retornar ao papel de Spock na nova série que estava em produção e que se
chamaria Star Trek Phase II(Jornada nas Estrelas Fase II). Nimoy,
entretanto, recusou devido a problemas de imagem e propaganda com Spock. Porém,
mais uma vez, o destino interviu. O filme Guerra
nas Estrelas (Star Wars) foi
lançado nesse mesmo ano, revolucionou os filmes de ficção-científica e foi um
sucesso estrondoso. Devido a isso, a Paramount deixou a ideia da nova série de
lado para investir em um filme para o cinema. Como estavam cientes que um filme
de Jornada sem Spock não daria certo,
trataram logo de resolver as pendências jurídicas com Nimoy, que, após tudo
resolvido, disse: “Obrigado, George Lucas”.
Jornada nas Estrelas, o
Filme foi lançado em 1979, com orçamento de
superprodução, um porre de efeitos especiais, todo o elenco original da série e
a direção de Robert Wise (de O Dia em Que
a Terra Parou). Nimoy respeitava tanto o diretor que sempre o chamava de
Sr. Wise. O filme agradou os fãs e fez sucesso, o que levou à inevitável
sequência: Jornada nas Estrelas II – A
Ira de Khan, sob a direção de Nicholas Meyer e com orçamento mais modesto.
Além do esperado sucesso e críticas muito boas, nesse filme aconteceu algo
chocante para os fãs: a morte do filho mais ilustre do planeta Vulcano. A
choradeira foi enorme.
Essa
choradeira terminaria em 1984 com Jornada
nas Estrelas III – À Procura de Spock, no qual Nimoy fez sua estreia na
direção de um filme para o cinema e que traz o seu personagem de volta à vida,
mas os fãs ficaram novamente chocados, pois, nesse filme, a Enterprise é
destruída! O filme foi bem recebido pela crítica e deu a Nimoy o cacife para
dirigir mais um filme de Jornada.
Jornada nas Estrelas IV
– A Volta Para Casa superou todas as expectativas. A
direção segura de Nimoy, que, a partir de uma história muito original, soube
mesclar com sabedoria as cenas de ação e humor juntamente com uma mensagem
ecológica muito incisiva (a proteção das baleias), fez com que o filme fosse o
grande sucesso de 1986 – tendo recebido quatro indicações para o Oscar - e
seja, até hoje, considerado o melhor filme dirigido por Nimoy e um dos melhores
da franquia.
As
vibrações estavam realmente boas para Leonard. Em 1987, mais um sucesso de
bilheteria: a comédia Três Solteirões e
Um Bebê, no qual dirigiu os astros Tom Selleck, Steve Guttemberg e Ted
Danson.
Em
1988, dirigiu seu filme mais controverso: O
Preço da Paixão, com Diane Keaton, Liam Neeson e Jason Robards. O filme
tratava de questões jurídicas de sexualidade e criação de crianças, um tema
difícil e polêmico. O filme dividiu a crítica e o público reagiu de forma
indecisa. Embora Nimoy o considerasse um trabalho bem feito, foi um fracasso de
bilheteria.
Em
1989, voltou à Enterprise em Jornada nas
Estrelas V – A Fronteira Final, dirigido por William Shatner. Os fãs
garantiram a bilheteria, mas a crítica não perdoou e malhou o filme
impiedosamente. Como não poderia deixar de ser, Nimoy defendeu o trabalho de
seu velho amigo. Ainda que o filme tivesse alguns bons momentos, é, de fato, o
mais fraco de todos os filmes de Jornada
para o cinema.
Ao
iniciar a década de 1990, Nimoy dirigiu seus dois últimos filmes para a tela
grande: As Coisas Engraçadas do Amor,
com Gene Wilder, em 1990; e Holy
Matrimony, com Patricia Arquette, em 1994; duas comédias que não tiveram
maiores repercussões.
Em
1991, Spock e a tripulação da Enterprise retornaram em Jornada nas Estrelas VI – A Terra Desconhecida, novamente sob a
direção de Nicholas Meyer. A Federação Unida dos Planetas e o Império Klingon
iniciam as negociações de paz (influência do fim da então União Soviética), mas
radicais tentam sabotar o processo e acusam falsamente o Capitão Kirk e o Dr.
McCoy de assassinato. Como um verdadeiro Sherlock Holmes, Spock investiga toda
a trama. O filme foi elogiado, considerado um final digno para os tripulantes
da Enterprise e abriu o caminho para Jornada
nas Estrelas – A Nova Geração.
Nos
anos seguintes, Nimoy dedicou-se à fotografia e fazia aparições esporádicas em
séries de TV (inclusive na Nova Geração).
Em 2009, estreou o reboot da franquia, Star
Trek, dirigido por J.J. Abrams. Nele Nimoy aparece como “Spock Prime” e
contracena com o novo Spock, Zachary Quinto. Em 2013, volta como Spock Prime em
Star Trek – Além da Escuridão, também
dirigido por Abrams. Foi o seu último filme.
No
início de 2014, anunciou que estava com uma doença pulmonar obstrutiva crônica,
devido à muitos anos de tabagismo, embora tivesse parado de fumar há mais 20
anos e mantivesse uma alimentação saudável (era vegetariano, assim como Spock).
Em
27 de fevereiro de 2015, após uma carreira e uma vida longas e prósperas, o
fascinante Leonard Nimoy, intérprete de um dos mais populares personagens do
cinema e da TV, partiu para a Fronteira Final. Para aqueles que ainda estão
entristecidos com essa partida, basta lembrar o que bem disse o Dr. McCoy: “Ele
não estará morto enquanto lembrarmos dele”. Sendo assim, sua memória irá até
onde nenhum homem jamais esteve...
A
seguir, um trailler com uma cena de Jornada
nas Estrelas IV – A Volta Para Casa: